Por *Carlos Savoy em 30/03/2020.
Me foi perguntado qual era minha opinião nesse atual momento, se achava que deveríamos ficar em casa ou sair para trabalhar, e gostaria de compartilhar com todos vocês meu posicionamento.
A primeira coisa que quero compartilhar é que o comportamento humano que leva a ansiedade (e hoje, sem exceções, estamos todos ansiosos), não é algo racional, pois o nosso cérebro está organizado em torno das emoções.
Nossa percepção de algo, está ligada à nossa base de dados (tudo que passamos na vida), a condição anterior ao fato (como estávamos antes) e ao evento em sí, no caso, o aparecimento da pandemia no Brasil.
Isso dispara nosso gatilho para que surja uma emoção vinculada ao evento, e que consequentemente, gerará um comportamento.
Nós jamais conseguiremos mudar um comportamento, principalmente se destrutivo. O que podemos fazer é tentar mudar a percepção das pessoas, para, daí sim, gerar uma nova emoção e consequentemente um novo comportamento.
Entendendo esse mecanismo, o que busco no texto é tentar mostrar que a ansiedade nesses dias é gerada por uma série de emoções e comportamentos, entre eles: perigo ou ameaça futura, catastrofização, achar que pode controlar a situação e, por fim, paralisia ou falta de agir
O ciclo da ansiedade está formado. Uma vez identificada a ameaça futura ou o perigo, não haverá descanso enquanto ele não for evitado. Essa emoção (medo) normalmente leva a catastrofização, que pode levar ao pânico, mesmo quando você não sabe ao certo a qual evento do mundo real o ataque de pânico está relacionado.
Agora, imaginem isso com a ajuda das redes sociais, onde recebemos milhares de informações e opiniões. Imaginem tudo isso na palma de sua mão a todo segundo.
Esse mar de informações, reais e irreais, nos leva a replicar informações e ideias que você concorda ou acredita, somente baseadas em análises individuais pessoais. Muitas vezes, de pessoas que você não conhece e nunca ouviu falar.
É a crença que você tem o poder de impedir (alertar) que todas as coisas ruins aconteçam. Mas, se tiver qualquer incerteza, pois chegarão novas informações e posições a todo segundo, alimentando o ciclo. Esse mundo de informações gera muitas dúvidas sobre o que fazer ou como agir e pode levar a uma paralisação das pessoas, aumentando ainda mais a ansiedade.
Concluindo e respondendo a pergunta realizada no início do texto, se as pessoas deveriam permanecer ou sair para trabalhar, entendo que a resposta não pode ser dada a toda uma coletividade, com um sim ou não.
Acredito que as pessoas tenham que usar todas as informações com credibilidade, inclusive as positivas, para tomar esta decisão.
Que pensem mais na probabilidade de acontecer algo do que possibilidade de acontecer (sempre existirá a possibilidade de acontecer qualquer coisa, até ganhar na loteria).
Que sejam realistas e não pessimistas com os cenários financeiros-econômicos de cada um, pois cada um sabe onde a água está batendo.
Mas, principalmente, que se utilize de fatos e não de sentimentos para fazer previsões e tomar decisões, pois decisões baseadas em sentimentos são normalmente equivocadas. Não saiam de casa, se você o está fazendo porque não aguenta mais ficar casa.
Esta decisão tem que ser baseada em informação, probabilidade de contágio, na realidade dos acontecimentos e baseada em fatos e não sentimentos.
Que possamos nos unir como pessoas, sem polarização. Que possamos ver o bom exemplo de empresas e profissionais a nossa volta. Que possamos evoluir tecnologicamente. E que possamos passar por tudo isso com serenidade.
Pois tudo passa…
*Carlos Savoy: Trabalha desde 2010 na Área de Mediação de Conflitos e Direitos Humanos, atuando como mediador, instrutor e consultor em gestão de conflitos, desenvolvendo e incentivando as ODRs (Online Dispute Resolutions) no Brasil. É membro da Comissão da Advocacia na Mediação OAB/SP (2019-21), da ABRAMAC – Associação Brasileira de Medição, Arbitragem e Conciliação como Secretário, da Comissão de ODRs da AB2L – Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs, e da Comissão de ODRs do Café com Mediação.